O economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de 2008, afirmou certa vez que “produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo”. O mesmo pode ser dito sobre a inovação: ela pode não ser tudo, mas é quase tudo. Ao expandir as fronteiras tecnológicas, ela alavanca a produtividade e estimula o desenvolvimento econômico. Nesse sentido, seu papel catalisador a torna protagonista do debate público sobre crescimento, exigindo que seja definida e monitorada para ser efetivamente fomentada.
De acordo com o Manual de Oslo, a inovação, em sentido amplo, é entendida como a “implementação de novas ideias”, ou seja, o processo de extensão do conhecimento com desdobramentos concretos que gera valor econômico por meio da eficiência no processo produtivo. A principal literatura sobre inovação ressalta seu caráter evolutivo, orientado pela mudança tecnológica. Por essa razão, esse approach teórico é também denominado “evolucionário” ou neo-schumpeteriano. Nesses estudos, destacam-se autores canônicos como Carlota Perez, Christopher Freeman, Giovanni Dosi, Richard Nelson e Sidney Winter.
Essa literatura também se debruça sobre o conceito de sistema de inovação, compreendido como o arcabouço de estruturas, instituições, produtos e interações que sustentam o processo inovador de determinado território, seja um país ou um estado. Mudanças bruscas de paradigma – como a pandemia de Covid-19 – transformam rapidamente as relações econômicas e, por isso, exigem que o sistema de inovação seja, ao mesmo tempo, resiliente e adaptativo: resiliente para manter a estabilidade da estrutura produtiva e adaptativo para reorientá-la diante das novas necessidades.
Partindo desses referenciais teóricos de análise, cabe a pergunta: como aferir o grau de maturidade do sistema de inovação brasileiro de forma a acompanhar, na prática, seus avanços e retrocessos? E mais: considerando a natureza continental e desigual do Brasil, como avaliar seus subsistemas nacionais, isto é, os sistemas estaduais e regionais de inovação?
Já existia uma extensa e qualificada produção acadêmica dedicada a investigar os efeitos econômicos da inovação no país, em diferentes períodos e recortes analíticos (Collet, 2012; De Negri, 2018; Beneli, 2019; Almeida; Rodas; Marques, 2020; Leal; Figueiredo, 2021; Botelho; Sousa; Avellar, 2022). Faltava, no entanto, um instrumento contínuo de monitoramento da inovação em escala subnacional e com periodicidade anual. O preenchimento dessa lacuna mostrou-se estratégico para subsidiar políticas públicas locais voltadas à inovação e ao desenvolvimento socioeconômico.
Nesse sentido, em 2019 foi criado o Índice de Inovação dos Estados, elaborado pelo Observatório da Indústria Ceará. Trata-se da primeira publicação técnica anual com o objetivo de quantificar e monitorar os sistemas de inovação subnacionais em recortes estaduais e regionais do Brasil. Desde então, o estudo passou por sucessivos aprimoramentos, com indicadores descontinuados, modificados e acrescentados. Um marco relevante de reconhecimento da robustez do Índice foi a apresentação de um artigo com sua metodologia e os resultados da 5ª edição no 51º Encontro Nacional de Economia, um dos congressos mais prestigiados do país na área.
Em sua 7ª edição, o Índice de Inovação dos Estados consolidou-se como um verdadeiro mapa dos sistemas de inovação do Brasil, orientando políticas públicas fundamentadas em evidências. Diferentes instituições, públicas e do terceiro setor, utilizam o estudo como bússola para nortear políticas e ações. O lançamento da edição mais recente, realizado em 19 de agosto na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, ganhou ampla divulgação em inúmeros veículos de mídia nacionais e estaduais, ampliando ainda mais o alcance da publicação. O “quase tudo” de Krugman encontra na inovação um reflexo fiel, pois, historicamente, os saltos econômicos consistentes nascem de rupturas tecnológicas e/ou organizacionais. Da máquina a vapor à internet, o que impulsionou economias não foi apenas a expansão do capital ou da mão de obra, mas a capacidade de adaptação e reinvenção diante de contextos cada vez mais desafiadores. É “quase tudo” porque abre portas que nem imaginávamos existir. Portanto, sua definição pela teoria econômica e seu monitoramento por instrumentos como o Índice são imprescindíveis para que novas portas sejam reveladas e para que as políticas públicas percorram os melhores caminhos rumo ao desenvolvimento econômico.