A busca pela adaptação contínua transcende a esfera da escolha e se estabelece como imperativo para empresas que almejam crescimento e destaque no mercado moderno. Schwab[1] enfatiza: "Estamos à beira de uma revolução tecnológica que modificará a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos". Por conseguinte, um cenário de mudanças céleres demanda estratégias com abordagens inovadoras, fundamentadas em repertórios multidisciplinares e iniciativas de colaboração, que se estabelecem e constroem alicerces em ambientes de cocriação.
De acordo com pesquisadores[2], os silos empresariais são caracterizados como divisões organizacionais pensadas para gerenciar funções específicas ou grandes grupos de pessoas em uma empresa. Essas estruturas frequentemente refletem compartimentalizações verticais ou horizontais, com limites definidos por departamentos ou funções específicas. Apesar de serem úteis para promover transparênciae clareza de papéis, a "mentalidade de silo", em que diferentes equipes não recebem estímulos para compartilharem conhecimentos e/ou atuarem ativamente com outras áreas, dificulta processos de inovação e aprendizado organizacional, refletindo numa fragmentação cultural prejudicial às necessidades de adaptabilidade inerentes à época presente.
Os ecossistemas de inovação promovem a prática da inovação aberta e a troca entre perspectivas que, em conjunto, podem criar algo singular. Eles configuram redes interdependentes de atores que cooperam e competem simultaneamente para entregar e capturar valor[3].
No entanto, o que tornaria um ecossistema realmente inovador? A princípio, é necessário estar embasado em uma cultura que promova indivíduos e interações, dinâmicas de experimentação e melhoria contínua, cocriação e resiliência[4]. O livro “O Dilema da Inovação”[5] destaca que organizações que incentivam a autonomia e a criatividade apresentam maior capacidade de adaptação e crescimento em mercados voláteis. Logo, ferramentas como os frameworks Lean Startup e Design Thinking são fundamentais nesse processo, pois exploram as características supracitadas ao testarem hipóteses rapidamente, validarem ideias com usuários reais e pivotarem com agilidade quando necessário[6, 7].
Diante desse contexto, a gestão de produtos manifesta-se não apenas como uma metodologia, mas também como uma filosofia que conecta estratégia e execução, combinandoinsights de mercado, design centrado no usuário e desenvolvimento ágil[7]. Enquanto silos operam com objetivo de otimizar a eficiência interna, os ecossistemas de inovação são criados para fomentar a colaboração e gerar valor comum à organização e a comunidade envolvida. Esses ecossistemas, com suas características dinâmicas e plurais, são intrínsecos à gestão de produtos e alinhados aos processos de digitização[8] e agilidade que vêm remodelando o setor industrial e que impulsionam transformações por meio da inovação[9]. Grandes marcas, como Netflix e Airbnb, ilustram essa transição: suas equipes trabalham de maneira integrada para criar experiências que atendam às expectativas dos usuários e gerem lucratividade ao negócio, enquanto redefinem os paradigmas da indústria[7].
Portanto, a lição é clara: a inovação não acontece no isolamento. É importante haver incentivo a ambientes em que equipes diversificadas possam colaborar ativamente, onde testar, errar, aprender e evoluir seja visto como oportunidade, e o foco esteja sempre no valor gerado para o cliente. Todavia, é preciso reconhecer que a transição de silos para ecossistemas apresenta desafios significativos: resistência à mudança, falta de alinhamento estratégico e dificuldade na integração de novas tecnologias surgem como barreiras comuns, mas que podem ser superadas mediante liderança forte e comprometida, humanização, adaptabilidade, investimentos adequados e uma visão clara dos objetivos em longo prazo. Ultrapassar essas barreiras significa impulsionar a transformação digital e encorajar a cultura de inovação.
Considerando essa perspectiva, o Observatório da Indústria Ceará vem promovendo a gestão de produtos no setor industrial e oferece soluções digitais capazes de otimizar processos, reduzir ineficiências e facilitar a tomada de decisões estratégicas. Um exemplo disso é o produto Govmonitor, que oferece à gestão governamental um monitoramento contínuo de dados e permite ajuste ágil às mudanças de cenários municipais, bem como gera melhorias decisórias e viabiliza a elaboração de políticas públicas mais embasadas. Já o Radar de Mercado exemplifica como dados e análises de mercado podem ser utilizados para auxiliar empresas a anteciparem tendências e identificarem oportunidades.
Como Product Owner e mestranda em Inovação Tecnológica, acredito que o futuro da indústria será definido pela capacidade de agregar tecnologia, criatividade e colaboração humana. Não estamos criando apenas produtos digitais, mas um novo ecossistema industrial, um ecossistema de inovação capaz de gerar renovações contínuas, mais inteligente, ágil e preparado para adversidades.
Camila Pinho,
Product Owner do Observatório da Indústria Ceará.
[1] SCHWAB, K. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Edipro, 2016.
[2] WEAVER, M.; DAY, T.; VAN DER HEIJDEN, B. Silo-Busting: Overcoming the Greatest Threat to Organizational Performance. Sustainability, v. 11, n. 23, p. 6.860, 2019.
[3] ADNER, R.; KAPOOR, R. Innovation ecosystems and the pace of substitution: Re‐examining technology S‐curves. Strategic Management Journal, v. 37, n. 4, p. 625-648, 2016.
[4] MANIFESTO ÁGIL. Manifesto Ágil para o Desenvolvimento de Software. 2001.
[5] CHRISTENSEN, Clayton. O Dilema da Inovação. [S.l.]:M. Books, 2011.
[6] BROWN, Tim. Change by Design: How Design Thinking Creates New Alternatives for Business and Society. [S.l.]: Harper Business, 2009.
[7] RIES, Eric. The Lean Startup: How Today's Entrepreneurs Use Continuous Innovation to Create Radically Successful Businesses. New York: Crown Business, 2011.
[8] Digitização se refere ao processo de transformar o negócio em digital, o que exige mudanças mais profundas, envolvendo desde o seu modelo de negócios até o seu fluxo de valor. [9] Inovação corresponde à implementação de uma iniciativa com sucesso, o que pode ocorrer tanto na criação quanto no aperfeiçoamento de um produto, serviço, modelo de negócios etc., sem que precise necessariamente ser algo disruptivo ou radical, mas incremental.